Como foi dito na pequena publicação colocada a meia hora atrás hoje será o lançamento da nova rubrica de seu nome "Fotografia, Uma Linguagem" que tem como objectivo convidar varias pessoas todas elas de diferentes áreas para partilharem connosco o porque do seu gosto pela fotografia e apresentarem uma fotografia tirada por eles. O primeiro convidado é Ricardo Borges, decerto que este nome é familiar para muitos que seguem com regularidade este Blog, uma vez que ele já participou de forma activa em inúmeras ocasiões com muitas das suas fotografias em publicações passadas. Um grande obrigado ao Ricardo por participar neste protejo, portanto sem mais atrasos senhora e senhores Ricardo Borges.
"Antes de mais nada, gostava de agradecer ao Tiago Carvalho por me dar a oportunidade de poder falar um pouco deste passatempo (que nem ocupa assim tanto tempo) que tenho e por me cativar e incentivar a tomar o gosto e tornar-me melhor atrás da lente, e gostava de agradecer também a vocês, que seguem o talento do Tiago, que apoiam e que têm o privilégio de admirar as belas paisagens que ele capta, assim como a introspecção e o pensamento que ele gosta de associar a cada fotografia que capta.
Foi-me pedido para falar um pouco de fotografia, do que me faz gostar desta arte e da minha visão sobre o tema. Honestamente, não sou ninguém para falar sobre fotografia. Não sou um profissional, não cobro pequenas fortunas pelo que a minha máquina produz, não exponho as minhas fotografias em grandes galerias quer em Portugal quer no mundo, as minhas peças não causam demissões de directores de museus, não causam admiração, não causam repulsa, não causam controvérsia, não inspiram jovens de Belas Artes... A bem da verdade, pouco ou nada entendo de arte, sou claramente um homem das ciências. E talvez seja precisamente isso que faça a diferença.
Sou um homem normal. Tenho - felizmente - um par de olhos (embora um pouco estragados) e um cérebro capaz de interpretar a informação que eles lhe transmitem. O segredo, a diferença, o busílis da questão reside no que o cérebro faz com essa informação. Não só aplicado à questão das artes ou da fotografia mas relativamente a tudo na vida, vida que é moldada à medida de cada um, quer na educação, histórias e memórias, cultura, religião, personalidade, entre tantos outros factores."
Dou um exemplo. Este cão que vedes na fotografia. Para muitos, talvez vejam só um cão. E estão correctos. Já eu, como Veterinário, posso ver o cão e os sinais clínicos que ele apresenta e pensar em que estado de saúde ele se encontra: se está a mancar, a salivar demasiado, como estão as pupilas dele, os dentes, as patas, o pêlo etc. Um biólogo ou um zootécnico poderia pensar na forma de como os seres evoluíram para chegar àquele ser, ou de como seriam os pais deste cão. Alguém de letras era capaz de olhar para o animal e para o ambiente envolvente e pensar numa quadra, num poema, numa ode onde encaixasse o cenário e os sentimentos que ele lhe fez transparecer. Pessoas da Psicologia podiam inquirir-se sobre o estado de espírito do cão, se parece triste ou alegre e o porquê, e se ele é capaz de desenvolver pensamento racional. Até Engenheiros podiam olhar e ver nele um modelo para próteses Biomecânicas, sei lá eu.
Vêm como uma coisa tão simples como um cãozinho pode ser interpretado por uma miríade de formas diferentes, cada uma verdadeira ao seu próprio elemento. Então que dizer de uma fotografia mais geral, onde se pode ver inúmeras coisas? É um pouco isto que torna o mundo da fotografia tão belo, diverso e mágico. O que para uma pessoa uma foto de duas pessoas num cenário de uma paisagem verde pode ser só isso: duas pessoas num campo verde, para outras pessoas pode ser uma memória doce de momentos bem passados. Não há fotografias melhores ou piores. Cada fotografia é tirada com uma intenção, nem que seja só para experimentar algo novo. Obviamente, há fotografias com falhas técnicas de contraste, ISO, luminosidade, tremidas, etc. Mas o que está por detrás disso, prévio ao resultado, é a intenção de quem se põe na posição de querer ver, querer sentir as vibrações que o obturador lhe dá, aquele momento em que o dedo pressiona o botão e a imagem se materializa quer seja no rolo quer seja no ecrã digital e no fim vemos o produto da nossa imaginação, do processamento que o nosso cérebro fez e que nos passa a sensação de sucesso, dúvida, repulsa, amor, desilusão, alegria, excitação, angústia ou saudade.
Fotografar é ver o mundo com muitos olhos e pontos de vista. Todos válidos e todos concentrados num ponto: o ponto onde o nosso cérebro é visto através da lente"
Fotografia de Ricardo Borges
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